ISAÍAS 45.7 - “ Que formo
a luz e crio as trevas, que faço a paz e crio o mal; Eu, o Senhor, que faço
todas as coisas.”
Deus é o
autor do mal?
Esta é uma pergunta que tem indagado a muitos. Diante do texto de Isaías, existem algumas controversas: Como surgiu o mal? Quando aconteceu a sua origem? Seria Satanas a causa principal de todo tipo de calamidade? Ou Será que é decreto de Deus, o homem que assassina uma pessoa com requintes de crueldade? Foi decretado por Deus o motorista de ônibus, que vencido pelo sono, perdeu o controle do veículo, causando assim a morte de inúmeras vítimas? O mal surgiu por causa do pecado de Adão e Eva?
Esta é uma pergunta que tem indagado a muitos. Diante do texto de Isaías, existem algumas controversas: Como surgiu o mal? Quando aconteceu a sua origem? Seria Satanas a causa principal de todo tipo de calamidade? Ou Será que é decreto de Deus, o homem que assassina uma pessoa com requintes de crueldade? Foi decretado por Deus o motorista de ônibus, que vencido pelo sono, perdeu o controle do veículo, causando assim a morte de inúmeras vítimas? O mal surgiu por causa do pecado de Adão e Eva?
Este blog tem
por principal objetivo registrar e compartilhar as principais opiniões e
críticas, indicando as fontes e os seus autores, sobre os mais variados
assuntos referentes a Palavra de nosso Deus.
E sobre este assunto, a origem do mal, com toda certeza, sobram opiniões
a respeito do tema. Estudiosos da Palavra de Deus observam outros textos que
fazem referência ao texto do profeta Isaías (cf. Jr 18:11 e Lm 3:38; Am 3:6).
Champlin, em seu comentário bíblico, observa que era uma doutrina comum
onde Deus é a causa única de tudo; e isso fazia dele a causa do mal. Dependendo
do modo de interpretação, podemos atribuir ou não todas as coisas, boas e
ruins, em sentido absoluto a Deus.
A Bíblia é clara ao dizer que Deus é moralmente perfeito (cf. Dt 32:4;
Mt 5:48), e que lhe é impossível pecar (Hb 6:18). Ao mesmo tempo, sua absoluta
justiça exige que ele puna o pecado. Este juízo assume ambas as formas:
temporal e eterna (Mt 25:41; Ap
20:11-15).
Na
sua forma temporal, a execução da justiça de Deus às vezes é chamada de “mal”,
porque parece ser um mal aos que estão sujeitos a ela (cf. Hb 12:11).
Entretanto, a palavra hebraica correspondente a “mal” (Ra) empregada no texto
nem sempre tem o sentido moral. De fato, o contexto mostra que ela deveria ser
traduzida como “calamidade” ou “desgraça”, como algumas versões o fazem. Assim,
se diz que Deus é o autor do “mal” neste sentido, mas não no sentido moral –
pelo menos não de forma direta.
Além disso, há um sentido indireto no qual Deus é o autor do mal em seu
sentido moral. Deus criou seres morais com livre escolha, e a livre escolha é a
origem do mal de ordem moral no universo. Assim, em última instância Deus é
responsável por fazer criaturas morais, que são responsáveis pelo mal de ordem
moral. Deus tornou o mal possível ao criar criaturas livres, mas estas em sua
liberdade fizeram com que o mal se tornasse real. E claro que a possibilidade
do mal (i.e., a livre escolha) é em si mesma uma boa coisa.
Portanto, Deus criou apenas boas coisas, uma das quais foi o poder da
livre escolha, E AS CRIATURAS MORAIS É QUE PRODUZIRAM O MAL. Entretanto, Deus é
o autor de um universo moral, e neste sentido indireto, ele, em última
instância, é o autor da possibilidade do mal. É claro, DEUS APENAS PERMITIU O
MAL, jamais o promoveu, e por fim irá produzir um bem maior através dele (cf.
Gn 50:20; Ap 21-22). Fonte:
CACP – Centro Apologético Cristão de Pesquisas
Para responder a essa pergunta, analisaremos às três principais linhas
teológicas da ortodoxia cristã: reformada, wesleyana e pentecostal clássica.
Louis
Berkhof, teólogo reformado, explica que a doutrina foi denominada “pecado
original” por três motivos:
(1)
porque deriva-se da raiz original da raça humana; (2) porque está presente na vida
de todo e qualquer indivíduo, desde a hora do seu nascimento e, portanto, não
pode ser considerado como resultado de imitação; e (3) porque é a raiz interna
de todos os pecados concretizados que corrompem a vida do homem.
Orton
Wiley, teólogo wesleyano, aceita a definição da Igreja Anglicana: “O pecado
original é o defeito e a corrupção de todo homem por meio da qual o indivíduo
está muito distanciado da retidão original e é, por sua própria natureza,
inclinado para o mal, de maneira que a carne sempre tem desejos contrários ao
Espírito; e, portanto, em cada pessoa nascida neste mundo ele (o pecado
original) merece a ira de Deus e a Sua condenação”.
Bruce
Marino, teólogo das Assembleias de Deus nos EUA, declara que o pecado original
é o ensino escriturístico de que o pecado adâmico afetou a humanidade em 4
aspectos: solidariedade, corruptibilidade, pecaminosidade e punitividade. No
primeiro aspecto, Marino ressalta como a raça humana está vinculada (ligada) a
Adão; no segundo, ele enfatiza que o alcance da queda é total e alude à total
depravação; no terceiro ponto ele enfatiza a universalidade do pecado, isto é,
toda a humanidade foi atingida pela queda de Adão; e no último, integrado aos
demais pontos, ele mostra que baseado em tais premissas, toda a raça humana é
merecedora de castigo, inclusive as crianças, assunto que abordaremos com mais calma
adiante.
Desta
forma, podemos concluir que, o pecado original é a herança pecaminosa que a
humanidade adquiriu de Adão. É a propensão para o mal, a inclinação para o
pecado. Depois da queda, portanto, o homem passou a viver com tendência
intrínseca para o mal, nossa natureza foi corrompida e se tornou propensa para
o pecado. Elucidando ainda mais essa concepção, podemos citar Sproul,
presidente da Reformation Bible College e pastor auxiliar da Saint Andrew’s
Chapel na cidade de Sanford, na Flórida. Ele disse que não somos pecadores
porque pecamos, mas que pecamos porque somos pecadores, pois herdamos de Adão
uma condição corrupta de pecaminosidade.
Quais são as
origens dessa doutrina?
Embora alguns autores deem a Agostinho o primado por esse ensino,
podemos verificar com destreza que tal doutrina remonta ao período apostólico.
Apesar de tal nomenclatura não ser encontrada na Bíblia, seu conceito é
integralmente exposto nela, conforme podemos verificar nos axiomas
infracitados:
A
herança de Adão: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
porquanto todos pecaram” (Rm 5.12).
A solidariedade adâmica: “Porque, assim como por um homem veio a morte,
também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois como em Adão todos
morrem, do mesmo modo em Cristo todos serão vivificados” (1 Co 15.21,22).
A depravação
total: “…já demonstramos que, tanto judeus como gregos,
todos estão debaixo do pecado; como está escrito: Não há justo, nem sequer um.
Não há quem entenda; não há quem busque a Deus. Todos se extraviaram;
juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm
3.9-12).
A
punição da humanidade: “Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos
delitos e pecados, nos quais outrora andastes, segundo o curso deste mundo,
segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos
de desobediência, entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos
da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por
natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.1-3).
Segundo
este ensino, o pecado seria a principal cauda do mal, tanto no mundo físico,
quanto no mundo angelical ( Gênesis 2.17; Ezequiel 28.11-15; Isaías 14.12-15 ).
Vejamos
agora uma analise sobre os dois textos: ( Enciclopédia Champlin )
Ezequiel
28.11-15
Lamentação
sobre o Rei de Tiro (28.11-19)
Temos
aqui uma alegoria (parábola) que celebra a queda do príncipe de Tiro. “Esta
lamentação se baseia em uma variante da história do Éden. O homem, criado como
um ser perfeito, morava no paraíso do Éden, coberto com pedras preciosas. Cf.
este item com as pedras preciosas do peitoral do sumo sacerdote, em Êxo.
28.17-20. Ver também a descrição da Jerusalém celestial, em Apo. 4.1-6; 21.15-
21. Foi
o orgulho que provocou o banimento do rei de seu paraíso, pelo querubim”
(Oxford Annotated Bible, introdução ao vs. 11).
A
Versão Mesopotâmica da História da Criação. O jardim do Éden era habitação de
um deus e de sua esposa-deusa. Esta versão é compatível com o deus- homem, o
príncipe de Tiro. Os detalhes essenciais se duplicam em Gênesis, menos os
fatores de homem-mulher versus deus-deusa. Ver no Dicionário o artigo
intitulado Éden, Jardim do, especialmente a seção II, “Interpretações liberais
e alegóricas sobre o Éden e Éden nos mitos mesopotâmicos”. Alguns cristãos,
seguindo a interpretação do judaísmo posterior, encontram Satanás no jardim, no
símbolo da serpente. Outros vêem Satanás atrás do deus-homem de Tiro,
inspirando-o,
mas esta interpretação é anacrônica, pertencente ao judaísmo que existiu muito
tempo depois da época de Ezequiel. E totalmente desnecessário supor que
houvesse um deus (demônio, espírito mal, Satanás etc.) inspirando o falso deus
de Tiro. O texto de Ezequiel reflete um paganismo puro: a reivindicação de um
homem ser deus. A passagem é mais do que uma expressão poética de um homem poderoso
que era como um deus.
O
deus do Éden foi lançado fora e humilhado e, finalmente, sofreu morte
miserável. Daí reduziu-se a cinzas (vs. 18). Não podemos dizer tais coisas
sobre Satanás, o demônio etc. Estão em vista a destruição do príncipe de Tiro e
da própria Tiro, não um acontecimento cósmico como o julgamento de Satanás. De
qualquer modo, a cidade está sob consideração, mas não sem o seu rei. Afinal,
os dois eram um só.
28.11
Veio
a mim a palavra do Senhor. Esta é a declaração comum para introduzir novos
materiais ou novos oráculos. Lembra-nos da inspiração divina da mensagem e de
que Ezequiel era o profeta autorizado por Yahweh. Ver Eze. 13.1; 14.2; 15.1;
16.1.
28.12
Filho
do homem. Yahweh fala com Ezequiel, utilizando seu título comum (anotado em
Eze. 2.1).
Levanta
lamentações contra o rei de Tiro. Adonai-Yahweh manda o profeta levantar o
qinah, o canto fúnebre, porque Tiro, a cidade-estado, morreu. Ver as notas em
Eze. 19.1. Adonai-Yahweh (o Soberano Eterno Deus), utilizando Seu poder incomparável,
acabará logo com Tiro e seu rei, a despeito de suas glórias anteriores. Ontem,
eles foram o próprio epítome da perfeição, mas este fato não os ajudará hoje, o
dia da crise. Também não devemos esquecer que aquela perfeição
era fruto da avaliação dos homens, da própria Tiro e de seus aliados, que não
concordavam com a realidade definida por Yahweh.
Tu
és o sinete da perfeição, cheio de sabedoria e formosura. Estas palavras
parecem descrever Satanás, o Príncipe das Trevas, mas o texto não tem nada que
ver com ele, como se fosse o poder por trás do trono de Tiro. As perfeições do
diabo, antes da queda, não se expressam neste texto. Cf. Isa. 14.12 ss.
Uma
de minhas fontes insiste na teoria de que se trata de Satanás, mas a
interpretação apresentada baseia-se num judaísmo posterior, não na teologia da
época de Ezequiel. Precisamos evitar anacronismos, ao tentar explicar o texto.
O que algum judeu teria entendido deste oráculo, no tempo de Ezequiel,
aplicando-o à teologia
da época? Não encontraríamos o Príncipe das Trevas naquela época, mas sim, o
príncipe de Tiro, o deus- homem, isto é, o homem que dizia ser um deus.
O
texto fala poeticamente sobre o deus-rei de Tiro, que logo seria reduzido a
cinzas (vs. 18) pelo ataque da Babilônia.
Sinete.
Um manuscrito hebraico, a Septuaginta, o Siríaco e a Vulgata registram, no
lugar desta palavra, selo, que traduz uma palavra hebraica semelhante. Ver o
rei como o selo, em Jer. 22.24. Cf. Ageu 2.23. Alguns eruditos preferem selo
como representante do texto original, que o texto massorético supostamente
perdeu. Ver no Dicionário o artigo intitulado Massora (Massorah); Texto
Massorético. Este é um texto padronizado. As versões, às vezes (talvez 5%),
preservam o original contra o texto hebraico padronizado. Ver também no
Dicionário o artigo Manuscritos Antigos do Antigo Testamento, que, além de dar
informações gerais, comenta o problema de como as leituras certas são
escolhidas, quando há variantes.
28.13
Estavas
no Éden, jardim de Deus; de todas as pedras preciosas te cobrias. O deus-rei
era como um deus, ou ser angelical, habitando no Éden, vestido em esplendor,
com muitas jóias e vestimentas finas. No Dicionário, forneço ao leitor curioso
um artigo sobre Pedras Preciosas, assim não comento cada uma aqui. Cf. a lista
do presente texto com aquela que trata do peitoral do sumo sacerdote, em Êxo.
28.17-20 e 39.10-13. Nessas descrições temos doze pedras, enquanto o texto
hebraico, aqui, lista somente nove. A Septuaginta, influenciada pelos textos de
Êxodo, dá todas as doze. As pedras preciosas representam a beleza, a perfeição
e a glorificação de Tiro e de seu deus-rei. Há certa fascinação pelas pedras
preciosas, que as valoriza para a mente humana. Tiro, a jóia do mar, encantou o
mundo antigo. Alguns intérpretes vêem o papa e toda a sua pompa, aqui, mas esta
interpretação é ridícula.
Engastes.
Podemos entender da palavra hebraica por trás desta tradução, instrumentos
musicais de sopro, que, quando tocados, dariam uma atmosfera agradável ao Éden
do deus-rei. A presença de instrumentos musicais talvez aluda ao dia da
ascensão do deus-rei ao trono, ocasião celebrada com música, dança e vinho.
28.14
Tu
eras querubim da guarda ungido. O falso deus-rei tinha a aparência de um deus
glorioso ou de um ser angélico esplendoroso. Foi ungido para seu alto ofício, e
seu trono era como uma montanha alta, exaltada, o monte dos deuses, ou de Deus:
Tiro exaltada no seu trono. O deus-rei andava no meio do brilho das pedras
celestiais fogosas e era glorioso no seu aspecto. As pedras preciosas
são sua própria fonte de luz ou refletem a glória do deus-rei. Alguns
intérpretes encontram Satanás aqui, na sua glória antes da queda, mas devemos
rejeitar esta interpretação como supérflua e anacrônica. Ver a discussão sobre
esta ideia, nos comentários dos vs. 11- 12. Está em vista o glorioso Ito-baal e
suas reivindicações absurdas concernentes à alegada divindade.
Querubim
da guarda. A alusão é ao querubim “que cobriu” o propiciatório, a tampa da arca
da aliança, situado no Santo dos Santos. O rei era como aquele anjo especial e
seleto, imitando o Poder de Deus no santuário. A ironia continua. O autor não
fala seriamente, mas zomba da glória pretensiosa do deus-rei. Aqui, ele é comparado
ao anjo que protegia o Poder do santuário. Era como o querubim que guardava os
portões do paraíso, protegendo a árvore da vida. Se a passagem é irônica, então
não está descrevendo Satanás, que tinha uma glória real antes da sua queda. Cf.
Êxo. 24.10,17.
28.15
As
descrições do “maravilhoso” deus-rei continuam. Não são as de Satanás antes de
sua queda, como insistem alguns intérpretes. Ver as notas nos vss.
11,
12,14, que não são repetidas aqui. O versículo, em tom irônico, continua
descrevendo o falso deus de Tiro. Orgulho era a iniquidade principal daquele
homem, alegado deus. Cf. esta ideia com os vss. 2 e 6. O coração do homem era
auto- exaltado nas suas reivindicações absurdas.
Isaías
14.12-15
Como
caíste do céu, ó estrela da manhã. A queda de Satanás? Ver a exposição sobre a
unidade literária que consiste nos vss. 13-15.
Agora
o rei caido é comparado a uma estrela que antes brilhava no céu, a saber, a
"estrela da manhã" ou doador da luz, traduzido por
"Lúcifer" na Vúlgata Latina. Dentro da mitologia cananéia (ugarftica)
havia uma divindade que era o deus do alvorecer, ou seja, a estrela da manhã,
de nome Shahar, correspondente a Vênus, na astronomia moderna. Mas o mais
provável é que o profeta nâo estava procurando nenhum tipo de identificação
astronômica. Ele falava sobre uma luz brilhante no céu, tão poderosa que era
capaz de anunciar o alvorecer. Entretanto, os babilônios deleitavam-se na
astrologia, e talvez haja aqui uma alusão a Vênus. O autor sacro misturou as
metáforas, pois diz que a estrela foi cortada, em vez de derrubada. Seja como
for, a estrela estava tão baixa que primeiramente se apagou e, em seguida, caiu
no sheol. A referência a Lúcifer, na Vulgata, não deveria fazer-nos
enganosamente pensar que esta passagem trata de Satanás, o que foi um
desenvolvimento
posterior
e dificilmente está em pauta aqui. Pelo contrário, está em vista um homem
diabólico. Ele era importante e elevado, uma espécie de deus-estrela, mas agora
tinha sido deitado tão abaixo que o seu leito era uma cama de gusanos, no
sheol. Aquele homem, estando ainda na terra, derrubara nações (pintadas como
florestas, vs. 8). Mas agora ele mesmo estava cortado, em solene demonstração
da justiça divina. Ver no Dicionário o verbete intitulado Lei Moral da Colheita
segundo a Semeadura. Aquele homem, sedento de sangue, culpado de tantos e tantos
crimes, foi lançado para fora do céu como objeto imundo e agora jazia em seu
humilde leito no sheol. No mundo ele fora a árvore mais elevada, mas isso não o
deixara imune ao machado divino.
14.13-15
Tu
dizias no coração: Eu subirei ao céu. A Queda de Satanás? O tirano se jactava
doentiamente de que subiria ao céu, rivalizando com os deuses, postando-se mais
alto que as estrelas de Elohim. Lá em cima ele colocaria o seu trono. A
expressão "no monte da congregação" é uma referência paga ao deuses
que habitariam as regiões celestes no norte, em tomo das quais girariam as
constelações. No cume desse monte, estava o trono do Deus Altíssimo (vs. 14).
Cf. Eze. 28.14 e Sal. 48.2. "A passagem diante de nós preserva a forma
Cananéia do mito da natureza, que fala na tentativa de a estrela da manhã
escalar as alturas celestes, ultrapassando em altura a todas as outras
estrelas, somente para ser lançada de volta a terra pelo sol vitorioso"
(R. B. Y. Scott, in toe).
Essa
história ilustra, pois, como as divindades secundárias tentam melhorar a sua
posição, chegando a atingir o céu dos mais elevados deuses (vs. 14). Em algum
ponto lá em cima, havia o mais elevado deus habitando em esplendor singular,
presumivelmente desfrutando de sua companhia. Mas o tirano não foi capaz de
concretizar suas aspirações. Algo tão simples como a morte física fê-lo tombar
às partes mais inferiores do abismo (sheol). Era isso o que ele merecia em sua
arrogância. Essa história assemelha-se à história de Lúcifer nas lendas
judaicas, as quais como são claro, baseavam-se neste texto. Mas, conforme se
pode ver originalmente não havia uma referência ao principal anjo caído, a quem
chamamos Satanás ou diabo. A história judaica posterior passou para a
interpretação cristã, como se aqui tivéssemos uma descrição da queda de
Satanás. O quadro de Satanás preso no sheol é diferente do que sabemos acerca
dele. Ele está "lá fora", causando todo o dano que puder. Ver sobre o
sheol, no vs. 9.
Naturalmente,
podemos ver aqui uma referência primária a Satanás, de quem o tirano da
Babilônia era imitador. Mas isso não concordaria com o contexto; antes, é uma
aplicação interpretativa da história. "A verdade é que este texto nada diz
acerca de
Satanás,
nem a respeito de sua queda, nem sobre a ocasião de sua queda, conforme muitos
intérpretes deduzem com tanta confiança" (Adam Clarke, in loc).
Teorias
sobre a existência do mal (Saber e Fé – Conceito Reformado)
Com
efeito, teorias não faltam para explicar a existência do mal no mundo; e, mesmo
entre os cristãos, há algumas teorias conflitantes entre si. Alguns atribuem
todos os males da humanidade à atividade de demônios. Felizmente, nos meios
mais solidificados pelo ensino bíblico, essa teoria é descartada. Contudo, no
pensamento cristão popular, subsiste uma teoria que se sobressai em
estatísticas de adesão: a de que o pecado é o único causador do mal entre os
homens. Mas será isto verdade? Quando observamos a Escritura com a cautela e os
critérios necessários, é isto mesmo o que encontramos? Todos os males do mundo
são causados ou pelo diabo ou pela consequência do pecado original ou mesmo
pelas consequências de nossos pecados pessoais? Neste artigo, vamos analisar a
questão.
Todo o mal
vem do pecado?
Primeiramente,
é preciso que reconheçamos a prioridade do pecado original como agente
desencadeador dos males aos qual a criação está submetida. Antes do evento
histórico da Queda; a harmonia e a paz, o gozo e a felicidade plena ligada ao
relacionamento com o Criador imperavam na humanidade, representados pelo primeiro
casal. Após a Queda, faz-se notória a erosão da humanidade como consequência de
sua primeira desobediência. A descrição antropomorfizada do desgosto de Deus
diante da maldade dos homens pós-Queda não poderia ser mais veemente: “Viu o
Senhor que era grande a maldade do homem na terra, e que toda a imaginação dos
pensamentos de seu coração era má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor
de haver feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração” (Gn 6.5,6).
Portanto, é óbvio que o advento da Queda proporcionou a entrada do mal na ordem
criada. Igualmente, não negamos a realidade da atividade demoníaca que, sempre
sob o controle permissivo e cerceador de Deus, age, de certa maneira, entre
nós.
Entretanto,
sabemos que Deus, em sua onisciência, sempre soube que o pecado teria sua
gênese. Além disso, a Escritura nos mostra, abundantemente, a soberania
absoluta de Deus sobre toda a sua criação (da qual, vale lembrar, nosso planeta
é apenas uma ínfima fração). Diz o Salmo 33.6: “Pela palavra do Senhor foram
feitos os céus, e todo o exército deles pelo sopro da sua boca”, e 33.9:
“Pois
ele falou, e tudo se fez; ele mandou, e logo tudo apareceu”. O Salmo 24.1a diz:
“Do Senhor é a terra e a sua plenitude”, e Efésios 1.11 dizem que Deus “(…) faz
todas as coisas segundo o conselho da sua vontade”. Sabemos também, na medida
em que a revelação do Senhor nos ensina, que a vontade de Deus é a causa última
de tudo o que acontece em toda a criação. Novamente, eis alguns trechos
transcritos da Bíblia: “(…) Como pensei, assim sucederá, e como determinei,
assim se efetuará” (Is 14.24). “(…) O meu conselho subsistirá, e farei toda a
minha vontade” (Is 46.10). “Mas ele está resolvido; quem então pode desviá-lo?
E o que ele quiser, isso fará. Pois cumprirá o que está ordenado a meu respeito
(…)” (Jó 23.13,14).
Com
isso, dois fatos ficam bastante evidentes e inegáveis se tivermos a Escritura
como expressão inspirada e inerrante da eterna Palavra de Deus: Primeiro, a
vontade de Deus é a causa última de todas as coisas; absolutamente todas. E a
soberania de Deus, como perfeição infinita de sua natureza, garante que toda a
vontade do Senhor será cumprida, bem como é cumprida plenamente neste exato
momento. Segundo, sua vontade não está dissociada da referida concretização; antes,
o integral e minucioso cumprimento da vontade de Deus é garantido por sua
capacidade de consolidá-la, por sua soberania, por sua onipotência, por seu
infinito cuidado e imanência.
Sendo
assim, devemos nos inclinar à conclusão de que a existência do mal no mundo é
selada pela vontade de Deus. Sim, a entrada do mal no mundo foi da vontade de
Deus. Neste ponto, devemos reconhecer a impopularidade de nossa afirmação.
Reconhecemos também as complicações lógicas derivadas de tal asserção, mas,
fundamentados na revelação da Palavra, provaremos esta constatação como
legitimamente bíblica, e apontaremos o indizível consolo que deriva desta
verdade.
A vontade de
Deus
O
primeiro ponto a ser tratado relaciona-se à questão da vontade de Deus. Já
vimos que a vontade de Deus é o motriz de absolutamente todos os fatos e
ocorrências na imensa criação. O texto de 2Rs 19.25 diz: “Porventura não
ouviste que já há muito tempo determinei isto, e já desde os dias antigos o
planejei? Agora, porém, o executei (…)” Na tentativa de endereçar a implicação
de que tudo o que acontece é da vontade de Deus e de que o mal acontece no
mundo, tendo, assim, o aval do Senhor; comumente se empreende uma categorização
artificial da vontade de
Deus.
Fala-se em “vontade absoluta” e “vontade permissiva”, entre outras. Porém,
sabemos que, embora essa categorização tenha alguma utilidade didática e seja
estabelecida com o mais sincero desejo de entender a relação de Deus para com a
obra de suas mãos, ela é de todo artificial e completamente imprecisa. Por
exemplo, para se justificar a ação do mal no mundo, diz-se que ele opera sob a “vontade
permissiva” de Deus. Contudo, este termo não denota acuradamente o que ocorre,
pois se pode levar à impressão de que Deus não tem capacidade ou poder para
refrear o mal, e por isso o permite; ou conduz à sensação de que Deus observa
inerte e apático
à ação
do mal em sua criação. Devemos, então, sublinhar que a famigerada “vontade
permissiva” de Deus não deixa de ser uma vontade; e toda vontade de Deus não se
caracteriza como um desejo ou um devaneio hipotético do Criador, antes, se
mostra como veículo pelo qual Ele opera seu poder e graça. Toda a vontade de
Deus se concretiza e, assim, até mesmo o que chamamos de vontade permissiva não
deixa de ser uma vontade positiva, causadora. A conclusão é que se o mal existe
e opera, e o faz sob a permissão de Deus, então mal é operado pela vontade de
Deus. O peso desta conclusão nos leva, portanto, à nossa segunda consideração.
Como um Deus
bondoso por permitir/decretar o mal
Este
segundo ponto a ser delineado refere-se a um dos problemas mais antigos da
teologia e da filosofia 1, a conciliação entre a existência de um Deus bondoso
e amoroso e a existência do mal. A pergunta principal do problema é: “Como um
Deus que se advoga bondoso e amoroso pode permitir ou mesmo decretar o mal?”
Longe de oferecermos uma resposta definitiva para o problema, nos
concentraremos em estruturar um raciocínio a partir do que diz a Bíblia.
Primeiramente,
é um fato, como vimos, que a vontade de Deus é a causa de todas as coisas. Por
isso, entendemos que todas as coisas são, em última análise, decretadas por
Deus. Precisamente por esta razão os reformadores tanto insistiram em anunciar
o que conhecemos como a doutrina dos decretos de Deus. É uma implicação direta
da revelação de um Deus soberano e todo-poderoso, da faculdade e do exercício
da total soberania desse mesmo Deus sobre todas as coisas. Em segundo, é
evidente que o mal é algo ruim, que contraria totalmente a essência de Deus, seja
em seus atributos substanciais, seja em seus atributos de natureza moral
(novamente, distinções didáticas e artificiais).
A
Bíblia diz que Deus é luz, e Nele não há treva alguma (1Jo 1.5). Então, como
pode um Deus que existe como o parâmetro único de bondade, permitir ou decretar
a existência do mal sem que isso contradiga sua própria essência? O fato é que,
ao contrário dos homens, Deus usa o mal para produzir o bem. Não se trata de
uma resposta simplista; trata-se apenas de uma constatação sintética acerca do
que a Palavra de Deus nos revela. Nós, seres humanos, praticamos o mal por puro
despeito, capricho, rebeldia e, às vezes, mórbido prazer. Deus, todavia, aplica
o mal como um meio para um fim. E se o fim é o cumprimento de sua vontade (Ef
1.11), e sua vontade é sempre boa (Rm 12.2), então Deus decreta o mal, o aplica
e utiliza para o bem maior. Seja este bem maior a punição dos pecados dos
homens ou a aflição de algum dos seus filhos, o fato é que, mediante a operação
do que nos aparenta ser mal, Deus está levando sua vontade a cabo.
Não
é assim que a Escritura nos mostra? José foi vendido como escravo e, contra
todas as probabilidades, acabou exercendo uma função crucial na história dos
hebreus (Gn 42-50). Salomão é apresentado como o culpado pela divisão do reino
de Israel, enquanto, ao mesmo tempo, vemos que Deus foi quem dividiu a nação
(1Rs 12.15). Em todos esses casos, podemos ver claramente a mão de Deus levando
situações e atos essencialmente maus a redundarem em um bem maior, o que, não coincidentemente,
é identificada com sua vontade santa e perfeita. Então, está bastante claro que
(I) Deus decreta e aplica o mal, e (II) que faz isto visando o cumprimento de
seus desígnios eternos, logo, benevolentes.
DOS ETERNOS
DECRETOS DE DEUS – Confissão de Fé
I.
Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho da sua própria
vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo
que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é
tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.
Ref. Is. 45:6-7; Rm. 11:33; Hb. 6:17; Sl.5:4; Tg. 1:13-17; I Jo.
1:5; Mt.
17:2; Jo. 19:11; At.2:23; At. 4:27-28 e 27:23, 24, 34.
II. Ainda
que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias
imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou
como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.
Ref. At. 15:18; Pv. 16:33; I Sm. 23:11-12; Mt. 11:21-23; Rm.
9:11-18.
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