Lapsarianismo (do latim lapsus:
'queda'), na teologia calvinista,
é uma doutrina referente
à ordem lógica do
decreto de Deus de
permitir a queda do homem, em relação ao decreto de redimir os
eleitos.
Vertentes do lapsarianismo
O lapsarianismo possui duas vertentes que divergem quanto à
ordem lógica (não temporal) dos decretos eternos de Deus. Nenhuma dessas
vertentes acredita que os eleitos tenham sido designados depois que Adão pecou (já
que os decretos divinos seriam anteriores à criação do mundo) Nesse aspecto, os
arminianos também concordam com os lapsarianos.
As vertentes do lapsarianismo são:
Muitos calvinistas (e muitos
não-calvinistas ou arminianos) rejeitam as visões lapsarianistas porque
percebem qualquer ordenação particular dos decretos como uma especulação
desnecessária e presuntiva, argumentando ser impossível conhecer a mente de
Deus sem evidências nas escrituras bíblicas.
Sumário das Visões
Supralapsarianismo:
- Eleger
alguns, reprovar o restante
- Criar
- Permitir
a queda
- Providenciar
salvação para os eleitos
- Chamado
do eleito à salvação
Infralapsarianismo:
- Criar
- Permitir
a queda
- Eleger
alguns, ignorar o restante
- Providenciar
salvação para os eleitos
- Chamado
do eleito à salvação
Amyraldismo:
- Criar
- Permitir
a queda
- Providenciar
salvação suficiente para todos
- Eleger
alguns, ignorar o restante
- Chamado
do eleito à salvação
Arminianismo:
- Criar
- Permitir
a queda
- Providenciar
salvação para todos
- Chamado
de todos à salvação
- Eleger
aqueles que creem
A distinção entre o infralapsarianismo e o supralapsarianismo
tem a ver com a ordem lógica dos decretos eternos de Deus, não com o momento da
eleição. Nenhum deles sugere que os eleitos foram escolhidos após Adão pecar.
Deus fez Sua escolha antes da fundação do mundo (Efésios 1:4) — bem antes de
Adão pecar. Tantos os infra como os supra (e até mesmo muitos arminianos)
concordam sobre isto.
SUPRALAPSARIANISMO é a visão de que Deus, contemplando o homem
ainda não-caído, escolheu alguns para receber a vida eterna e rejeitou todos os
outros. Assim, um supralapsariano diria que o reprovado (não-eleito) — vaso de
ira preparado para destruição (Romanos 9:22) — foram primeiramente ordenados
para este fim, e então o meio pelo qual eles cairiam em pecado foi ordenado. Em
outras palavras, o supralapsarianismo sugere que o decreto de eleição de Deus
logicamente precede Seu decreto de permitir a queda de Adão — de forma que sua
condenação é, antes de tudo, um ato de soberania divida, e somente
secundariamente um ato de justiça divina.
O supralapsarianismo é algumas vezes, de forma errônea,
considerado o mesmo que “dupla predestinação”. O próprio termo “dupla
predestinação” é frequentemente usado duma forma equivocada e ambígua. Alguns
usam-no querendo dizer nada mais do que a visão de que o destino eterno, tanto
do eleito como do reprovado, é determinado pelo decreto eterno de Deus. Neste
sentido do termo, todo calvinista genuíno sustenta a “dupla predestinação” — e,
o fato de que o destino do reprovado está eternamente determinado, é uma
doutrina claramente bíblica (cf. 1 Pedro 2:8; Romanos 9:22; Judas 4).
Mas mais
frequente ainda, a expressão “dupla predestinação” é empregada como um termo
pejorativo para descrever a visão daqueles que sugerem que Deus é tão ativo em
manter o réprobo fora do céu como Ele é em colocar os eleitos dentro dele (Há
uma forma ainda mais sinistra de “dupla predestinação”, que sugere que Deus é
tão ativo em manter o réprobo mau como Ele o é em manter o eleito santo).
Esta visão (de que Deus é tão ativo na reprovação do não-eleito
como Ele o é na redenção do eleito) é mais propriamente chamada de “igualdade
última” (cf. R.C. Sproul, Chosen by God [Eleitos de Deus], 142). Ela é
realmente uma forma de hipercalvinismo e não tem nada a ver com o verdadeiro e
histórico calvinismo. Embora todos os que sustentem tal visão também sustentem
o esquema supralapsariano, a visão em si mesma não é necessariamente uma
ramificação do supralapsarianismo.
O supralapsarianismo é também algumas vezes, erroneamente,
considerado o mesmo que hipercalvinismo. Todos os hipercalvinistas são
supralapsarianos, embora nem todos os supralapsarianos sejam hipercalvinistas.
O supralapsarianismo é algumas vezes chamado de “high” calvinismo, e seus
aderentes mais extremos tendem a rejeitar a noção de que Deus tenha algum grau
de sincera boa vontade ou significante compaixão para com os não-eleitos.
Historicamente, uma minoria de calvinistas têm sustentado esta visão.
Mas, o comentário de Boettner de que “não mais que um calvinista
dentre cem sustenta a visão “supralapsariana”, é, sem dúvida, um exagero. E, na
década passada ou aproximadamente, a visão supralapsariana parece ter ganhado
popularidade.
O INFRALAPSARIANISMO (também conhecido como “sub-lapsarianismo”)
sugere que o decreto de Deus permitir a queda precede logicamente Seu decreto
de eleição. Assim, quando Deus escolheu o eleito e ignorou o não-eleito, Ele
estava contemplando todos eles como criaturas caídas.
Estas são as duas principais visões calvinistas. No esquema
supralapsariano, Deus primeiro rejeitou os réprobos, como resultado de Seu
soberano beneplácito; então Ele ordenou os meios de sua condenação através da
queda.
Na ordem infralapsariana, os não-eleitos foi primeiramente visto como
indivíduos caídos, e eles foram condenados somente por causa do seu próprio
pecado. Os infralapsarianos tendem a enfatizar o fato de Deus “ignorar” os
não-eleitos (preterição) em Seu decreto de eleição.
Robert Reymond, ele mesmo um supralapsariano, propõe a seguinte
redefinição da visão supralapsariana:
O Supralapsarianismo Modificado de
Reymond:
- Eleger
alguns homens pecadores, reprovar o restante
- Aplicar
os benefícios redentores aos eleitos
- Providenciar
salvação para os eleitos
- Permitir
a queda
- Criar
Note que, em acréscimo à reordenação dos decretos, a visão de
Reymond deliberadamente enfatiza que no decreto de eleição e reprovação, Deus
estava contemplando os homens como pecadores. Reymond escreve, “Neste esquema,
diferentemente do anterior (a ordem supralapsariana clássica), Deus é
representado como discriminando entre homens vistos como pecadores, e não entre
homens vistos simplesmente como homens (Veja Robert Reymond, Systematic
Theology of the Christian Faith [Teologia Sistemática da Fé Cristã], 489). O
refinamento de Reymond evita o criticismo comumente levantado contra o
supralapsarianismo — que o supralapsariano tem Deus condenado os homens à
perdição antes dEle nem mesmo contemplá-los como pecadores.
Mas a visão de
Reymond também deixa a questão não-respondida de como e porque Deus deveria
considerar todos os homens como pecadores, antes que fosse determinado que a
raça humana cairia (Alguns podem até mesmo argumentar que os refinamentos de
Reymond resultam numa posição que, até onde diz respeito à distinção chave, é
implicitamente infralapsariana).
Todos os principais Credos Reformados, ou são explicitamente
infralapsarianos, ou evitam cuidadosamente uma linguagem que favorece uma ou
outra visão. Nenhum credo importante toma a posição supralapsariana (Todo este
assunto foi veementemente debatido durante toda a Assembléia de Westminster.
William Twisse, um ardoroso supralapsariano e presidente da Assembleia, defendeu
habilmente sua visão. Mas, a Assembléia optou pela linguagem que claramente
favorece a posição infralapsariana, embora sem condenar o supralapsarianismo).
“Bavinck assinalou que a apresentação supralapsariana ‘não foi
incorporada a nenhuma Confissão Reformada’, mas que a posição infralapsariana
recebeu um lugar oficial nas Confissões das igrejas” (Berkouwer, Divine
Election, 259).
A discussão de Louis Berkhof das suas visões (em sua Teologia
Sistemática) é útil, embora ele pareça favorecer o supralapsarianismo. Eu tomo
a visão infralpasariana, como Turretin, a maioria dos teólogos de Princeton, e
a maioria dos líderes do Seminário de Westminster (por exemplo, John Murray).
Estes assuntos foram o cerne da controvérsia da “graça comum” na primeira
metade do século XX. Herman Hoeksema e aqueles que seguiram-no tomaram uma
posição supralapsariana tão rígida que eles, no final das contas, negaram o
próprio conceito de graça comum.
Finalmente, veja o quadro abaixo, que compara estas visões com o
Amyraldianismo (um tipo de calvinismo de quatro-pontos) e o Arminianismo.
Minhas notas em cada visão (abaixo), identifica alguns dos maiores defensores
de cada visão.
NOTAS SOBRE A ORDEM DOS DECRETOS
Supralapsarianismo
- Beza
sustentava esta visão. Embora freqüentemente seja dito ser ele o
responsável por formular a posição supralapsariana, ele não o fez.
- Outros
proponentes históricos incluem: Gomarus, Twisse, Perkins, Voetus, Witsius,
and Comrie.
- Louis
Berkhof parece valorizar ambas visões, mas parece tender levemente para o
supralapsarianismo (Teologia Sistemática, 120-25).
- Karl
Barth sentia que o supralapsarianismo estava mais próximo do certo do que
o infralpasarianismo.
- A
Teologia Sistemática da Fé Cristã de Robert Reymond toma a visão
supralapsariana e inclui uma defesa prolongada do supralapsarianismo.
- Turretin
diz que o supralapsarianismo é “mais duro e menos apropriado” do que o
infralapsarianismo. Ele crê que ele “não parece concordar suficientemente
com a bondade inefável [de Deus]” (Elenctic Theology, vol. 1, 418).
- Herman
Hoeksema e toda a liderança das Igrejas Protestantes Reformadas (incluindo
Homer Hoeksema, Herman Hanko e David Engelsma) são supralapsarianos
determinados — freqüentemente argumentando, tanto implicitamente como
explicitamente, que o supralapsarianismo é o único esquema logicamente
consistente. Esta presunção claramente contribui para a rejeição da graça
comum pelas Igrejas Protestantes Reformadas.
- De
fato, os mesmos argumentos usados em favor do supralapsarianismo têm sido
empregados contra a graça comum. Assim, o supralapsarianismo tem nele uma
tendência que é hostil à ideia de graça comum (É um fato que,
virtualmente, todos que negam “a graça comum” são supralapsarianos).
- Supralapsarianismo
é a posição de todos que sustentam o tipo mais rígido de “dupla
predestinação”.
- É
difícil encontrar expoentes do supralapsarianismo entre os principais
teólogos sistemáticos. Mas, a tendência entre alguns dos autores mais
modernos pode ser para a visão supralapsariana. Berkhof era simpatizante
com esta visão; Reymond a defende expressamente.
- A.
Webb diz que o supralapsarianismo é “abominável à metafísica, à ética e às
Escrituras. Ele não é exposto em nenhum credo calvinista e pode ser
defendido somente por alguns extremistas” (Salvação Cristã, 16). Embora
seja simpatizante das convicções infralapsarianas de Webb, penso que ele
exagera grosseiramente o julgamento contra o supralapsarianismo [Webb foi
um presbiteriano do século XIX].
Infralapsarianismo
Esta visão é também chamada “sublapsarianismo”.
- John
Calvino disse algumas coisas que parecem indicar que tinha simpatia com
esta visão, embora o debate não tenha ocorrido nos seus dias de vida (veja
Calvinismo de Calvino, traduzido para o inglês por Henry Cole, 89ss;
também William Cunningham, Os Reformadores e a Teologia da Reforma,
364ss).
- G. T.
Shedd, Charles Hodge, L. Boettner, e Anthony Hoekema sustentavam esta
visão.
- Tanto
R. L. Dabney como William Cunningham apoiaram-se decididamente a esta
visão, mas resistiram argumentar sobre o assunto. Eles criam que todo o
debate ia além das Escrituras e, portanto, era desnecessário. Dabney, por
exemplo, diz “Esta é uma questão que nunca deve ser levantada” (Teologia
Sistemática, 233). Twisse, o supralapsariano, virtualmente concordava com
isto. Ele chamava a diferença de “mera apex logicus, um ponto de lógica.
E, não é mera loucura fazer uma brecha de unidade ou caridade na igreja,
meramente por causa de um ponto de lógica?” (citado em Cunningham, Os
Reformadores, 363). G.C. Berkouwer também concorda: “Somos confrontados
aqui com uma controvérsia que deve sua existência à infração dos limites
colocados pela revelação”. Berkouwer pergunta em voz alta se estamos
“obedecendo o ensino da Escritura se recusamos fazer uma escolha aqui”
(Eleição Divina, 254-55).
- Thornwell
não concorda que o assunto seja controvertido. Ele diz que o assunto
“envolve algo mais do que uma questão de método lógico. Ele é realmente
uma questão da mais alta significância moral. Condenação e enforcamento
são partes do mesmo processo, mas ela é algo mais do que uma questão de
disposição, se um homem deve ser enforcado antes de ser condenado”
(Escritos Selecionados, 2:20). Thornwell é veementemente infralapsariano.
- O
infralapsarianismo foi afirmado pelo sínodo de Dort, mas somente de
maneira implícita nos símbolos de Westminster. Twisse, um supralapsariano,
foi o primeiro presidente da Assembleia de Westminster, que evidentemente
decidiu que a conduta mais sábia era ignonar a controvérsia totalmente
(embora as tendências de Westminster fossem, argumentavelmente,
infralapsarianas). A Confissão de Westminster, portanto, juntamente com a
maioria dos Credos Reformados, implicitamente afirmou o que o Sínodo de
Utrecht (1905) mais tarde declarou explicitamente: “Que nossas confissões,
certamente com respeito à doutrina da eleição, seguem a apresentação
infralapsariana, [mas] isto não implica de forma alguma, uma exclusão ou
condenação da apresentação supralapsariana”.
Amyraldismo
Amyraldismo (é a ortografia preferida, e não AmyraldIANismo).
- Amyraldismo
é a doutrina formulada por Moisés Amyraut, um teólogo francês da escola
Saumur (Esta mesma escola gerou outro desvio agravante da ortodoxia
reformada: a visão de Placaeus envolvendo a imputação mediata da culpa de
Adão).
- Por
fazer o decreto para expiar o pecado logicamente antecedente ao decreto de
eleição, Amyraut podia ver a expiação como hipoteticamente universal, mas
eficaz para os eleitos somente. Portanto, a visão é algumas vezes chamada
de “universalismo hipotético”.
- O
puritano Richard Baxter abraçou esta visão, ou algo próxima à ela. Ele
parece ter sido o único líder puritano importante que não era um
calvinista “completo”. Alguns discutiriam se Baxter era um verdadeiro
Amyraldiano (ver, por exemplo, George Smeaton, A Doutrina Apostólica da
Expiação [Edinburgh: Banner of Truth, 1991 reprint], Appendix, 542). Mas o
próprio Baxter parecia se considera um Amyraldiano.
- Esta é
uma forma sofisticada de formular o “calvinismo de quatro-pontos”,
enquanto ainda se considera um decreto eterno de eleição.
- Mas, o
Amyraldismo provavelmente não deveria ser igualado totalmente com o assim
chamado “calvinismo de quatro-pontos”. Em minha própria experiência,
muitos pretensos “quatro-pontos” são incapazes de articular qualquer
explicação coerentes de como a expiação pode ser universal, mas a eleição
incondicional. Assim, eu não desejo glorificar a posição deles,
denominando-a de Amyraldismo (Quem dera eles fossem tão comprometidos com
a doutrina da soberania divina como Moisés Amyraut era! A maioria dos que
se chamam “quatro-pontos” são realmente cripto-arminianos).
- Strong
sustentava esta visão (Teologia Sistemática, 778). Ele a chamou
(incorretamente) de “sub-lapsarianismo”.
- Henry
Thiessen, evidentemente seguindo Strong, também rotulou indevidamente esta
visão de “sub-lapsarianismo” (e contrastando-o com o “infralapsarianismo”)
na edição original de suas Lições em Teologia Sistemática (343). Sua
discussão nesta edição é muito confusa e patentemente errônea em alguns
pontos. Nas edições posteriores de seu livro, esta seção foi completamente
reescrita.
Arminianismo
- Henry
Thiessen argumento esta visão na edição original de sua Teologia
Sistemática. A edição revista não mais defende explicitamente esta ordem
dos decretos, mas o arminianismo fundamental de Thiessen ainda é
claramente evidente.
- A
maioria dos teólogos arminianos recusa tratar do decreto eterno de Deus, e
arminianos extremos até negam o próprio conceito de um decreto eterno.
Aqueles que reconhecem o decreto divino, contudo, devem parar de fazer a
eleição contingente à resposta do crente ao chamado do evangelho. Deveras,
esta é toda a essência do arminianismo.
Autor: Phillip R. Johnson
Tradução: Felipe Sabino
Fonte: Monergismo / Wikipedia
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