Os Cinco Pontos do Calvinismo e Os Cinco Pontos do Arminianismo
1. Autoria
Ao contrário do que muitos pensam, não foi João Calvino quem
escreveu “Os Cinco Pontos do Calvinismo”. Talvez algumas pessoas ficarão
impressionadas com esta afirmação. No entanto, a magna pergunta que se faz é:
Se não foi Calvino, quem foi então? “Estes cinco pontos foram formulados pelo
Sínodo de Dort, Sínodo este convocado pelos estados Gerais (da Holanda) e
composto por um grupo de 84 Teólogos e 18 representantes seculares, entre esses
estavam 27 delegados da Alemanha, Suíça, Inglaterra e outros países da Europa
reunidos em 154 Sessões, desde 13 de novembro de 16 18 até maio de 1619” . [1]
Portanto, peca por ignorância quem afirma ser João Calvino o autor destes cinco
pontos, porque na verdade, a afirmação correta é que estes “pontos” foram
fundamentados tão somente nas doutrinas ensinadas por ele. Aliás, este sistema
doutrinário, se assim podemos chamá-lo, foi elaborado somente 54 anos após a
morte do grande reformador (1509-1564).
2. Razão de sua Escrita
Os Cinco Pontos do Calvinismo foram formulados em resposta a
um “documento que ficou conhecido na história como ‘Remonstrance' ou o mesmo
que ‘Protesto'”, [2]apresentado ao Estado da Holanda pelos “discípulos do
professor de um seminário holandês chamado Jacob Hermann, cujo sobrenome latino
era Arminius (1560-1600). Mesmo estando inserido na tradição reformada,
Arminius tinha sérias dúvidas quanto à graça soberana de Deus, visto quem era
simpático aos ensinos de Pelágio e Erasmo, no que se refere à livre vontade do
homem”. [3] Este documento formulado pelos discípulos de Arminius tinha como
objetivo mudar os símbolos oficiais de doutrinas das Igrejas da Holanda
(Confissão Belga e Catecismo de Heidelberg ), substituindo pelos ensinos do seu
mestre. Desta forma, a única razão pela qual Os Cinco Pontos do Calvinismo
foram elaborados era a de responder ao documento apresentado pelos discípulos
de Arminius.
3. Porque Cinco Pontos?
Este documento formulado pelos alunos de Jacob Arminius
tinha como teor cinco principais pontos, conhecidos como “Os Cinco Pontos do
Arminianismo”. E como já dissemos logo acima, em resposta a este Cinco Pontos
do Arminianismo, o Sínodo de Dort elaborou também o que conhecemos como “Os
Cinco Pontos do Calvinismo” ao invés de sete ou dez. Estes pontos do calvinismo
são conhecidos mundialmente pela palavra TULIP, um acróstico popular que na
língua inglesa significa:
T otal Depravity Total
Depravação
U nconditional Election Eleição
Incondicional
L imited Atonement Expiação
Limitada
I rresistible Grace Graça
Irresistível
P erseverance of Saints Perseverança
dos Santos
4. Os Cinco Pontos do Arminianismo Versus Os Cinco Pontos do
Calvinismo
Arminianismo
Calvinismo
1. Vontade Livre – O arminianismo diz que a vontade do homem
é “livre” para escolher, ou a Palavra de Deus, ou a palavra de Satanás. A
salvação, portanto, depende da obra de sua fé.
1. Depravação Total – O calvinismo diz que o homem não
regenerado é absolutamente escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente
incapaz de exercer sua própria vontade livremente (para salvar-se), dependendo,
portanto, da obra de Deus, que deve vivificar o homem, antes que este possa
crer em Cristo.
2. Eleição
Condicional – O arminianismo diz que a “eleição é condicional, ou seja,
acredita-se que Deus elegeu àqueles a quem “pré-conheceu”, sabendo que
aceitariam a salvação, de modo que o pré-conhecimento [de Deus] estava baseado
na condição estabelecida pelo homem.
2. Eleição Incondicional – O calvinismo sustenta que o
pré-conhecimento de Deus está baseado no propósito ou no plano de Deus, de modo
que a eleição não está baseada em alguma condição imaginária inventada pelo
homem, mas resulta da livre vontade do Criador à parte de qualquer obra de fé
do homem espiritualmente morto.
3. Expiação Universal
– O arminianismo diz que Cristo morreu para salvar não um em particular, porém
somente àqueles que exercem sua vontade livre e aceitam o oferecimento de vida
eterna. Daí, a morte de Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que os que têm
volição negativa, isto é, os que não querem aceitar, irão para o inferno.
3. Expiação Limitada – O calvinismo diz que Cristo morreu
para salvar pessoas determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai desde toda a
eternidade. Sua morte, portanto, foi cem por cento bem sucedida, porque todos
aqueles pelos quais ele não morreu receberão a “justiça” de Deus, quando forem
lançados no inferno.
4. A Graça pode ser
Impedida – O arminianismo afirma que, ainda que o Espírito Santo procure levar
todos os homens a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a humanidade e deseja
salvar a todos os homens), ainda assim, como a vontade de Deus está amarrada à
vontade do homem, o Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo homem, se o
homem assim o quiser. Desde que só o homem pode determinar se quer ou não ser
salvo, é evidente que Deus, pelo menos, “permite” ao homem obstruir sua santa
vontade. Assim, Deus se mostra impotente em face da vontade do homem, de modo
que a criatura pode ser como Deus, exatamente como Satanás prometeu a Eva, no
jardim [do Éden].
4. Graça Irresistível – O calvinismo entende que a graça de
Deus não pode ser obstruída, visto que sua graça é irresistível. Os calvinistas
não querem significar com isso que Deus esmaga a vontade obstinada do homem
como um gigantesco rolo compressor! A graça irresistível não está baseada na
onipotência de Deus, ainda que poderia ser assim, se Deus o quisesse, mas está
baseada mais no dom da vida, conhecido como regeneração. Desde que todos os
espíritos mortos (= alienados de Deus) são levados a Satanás, o deus dos
mortos, e todos os espíritos vivos (= regenerados) são guiados
irresistivelmente para Deus (o Deus dos vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá
a seus escolhidos o Espírito de Vida. No momento que Deus age nos eleitos, a
polaridade espiritual deles é mudada: Antes estavam mortos em delitos e
pecados, e orientados para Satanás; agora são vivificados em Cristo, e
orientados para Deus.
5. O Homem pode Cair
da Graça – O arminianismo conclui, muito logicamente, que o homem, sendo salvo
por um ato de sua própria vontade livremente exercida, aceitando a Cristo por
sua própria decisão, pode também perder-se depois de ter sido salvo, se
resolver mudar de atitude para com Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos acrescentariam
que o homem pode perder, subseqüentemente, sua salvação, cometendo algum
pecado, uma vez que a teologia arminiana é uma “teologia de obras” – pelo menos
no sentido e na extensão em que o homem precisa exercer sua própria vontade
para ser salvo). Esta possibilidade de perder-se, depois de ter sido salvo, é
chamada de “queda (ou perda) da graça”, pelos seguidores de Arminius. Ainda, se
depois de ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela pode tornar-se
livremente a Cristo outra vez e, arrependendo-se de seus pecados, “pode ser
salva de novo”. Tudo depende de sua continua volição positiva até à morte!
5. Perseverança dos Santos – O calvinismo sustenta muito
simplesmente que a salvação, desde que é obra realizada inteiramente pelo
Senhor – e que o homem nada tem a fazer antes, absolutamente, “para ser salvo”
-, é óbvio que o “permanecer salvo” é, também, obra de Deus, à parte de
qualquer bem ou mal que o eleito possa praticar. Os eleitos ‘perseverarão' pela
simples razão de que Deus prometeu completar, em nós, a obra que ele começou.
Por isso, os cinco pontos de TULIP incluem a Perseverança dos Santos .
NOTAS:
[1] - Tradução livre e adaptada do livro The Five Points of
Calvinism, www.unifil.br/teologia/arquivos/ cincopontoscalvinoesboco.pdf
[2] - The Five Points of
Calvinism, p. 1, ob.cit.
[3] - Duane E. Spencer, TULIP, Os Cinco Pontos do Calvinismo
à Luz das Escrit uras, p. 111-112, Parakletos, 2ª Edição – São Paulo – 2000.
[4] - Esta síntese foi retirada do livro TULIP , p. 15-19.
[5] - TULIP , p. 112.
[6] - The Five Points of
Calvinism, p. 6.
Rev. André do Carmo Silvério
Pastor da Igreja Presbiteriana do Jardim Girassol –
Guarulhos,
Professor de Teologia Sistemática no Instituto Bíblico
Presbiteriano Rev. Boanerges Ribeiro e Secretário de Mocidade da Confederação
Norte Paulistano
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