Confiabilidade das Escrituras
O que Entendemos por Escritura
No período de 250 a.C. a 250 d.C. muitos outros livros foram produzidos como Macabeus (250 – 150 a.C.) e escritos Pós-apostólicos (100 – 250 d.C). Todavia, a Igreja reconheceu (reconheceu, não determinou) como inspirados por Deus, infalível, confiável e autoritativa somente os 66 que hoje compõe o cânon (39 + 27) usando critérios como apostolicidade e ortodoxia.
Contudo, esse conceito foi sendo perdido ao longo da Idade Média, especialmente com a questão católica do magistério, da infalibilidade papal e da revelação progressiva (após o fechamento do Cânon).
A Autoridade da Escritura
Os Reformadores recuperaram a doutrina da autoridade das Escrituras canônicas que havia sido soterrada durante a Idade Média. Ele rejeitaram a autoridade e infalibilidade papal e re-estabeleceram a autoridade e infalibilidade das Escrituras. Entenderam que este conceito é derivado da própria escritura e tem raízes nos profetas do AT, no Senhor Jesus e seus apóstolos.
Assim, a Escritura passou a ser o Juiz Supremo nas Igrejas protestantes e na vida individual, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores e as doutrinas de homens e opiniões particulares têm de ser examinados.
A Necessidade de Escrituras Confiáveis
Qual a base teológica para uma revelação escrita que fosse infalível, confiante e autoritativa?
Temos a revelação de Deus na natureza que é suficiente para mostrar sua existência e sua natureza e deixar os homens indesculpáveis (Romanos 1), mas insuficiente para salvar. Temos também a revelação de Deus na consciência, resultante da Imago Dei (imagem de Deus), que é suficiente para mostrar que existe certo e errado, mas também insuficiente para salvar.
Deus revelou-se e declarou sua vontade ao seu povo e depois a fez escrever toda através de homens que escolheu ao longo de dois milênios e os inspirou para melhor preservação da verdade, propagação da verdade e estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo. Com isto cessaram os modos antigos de Deus se revelar aos homens. Por ser a revelação escrita e inspirada de Deus, as Escrituras são portanto confiáveis e autoritativas.
A Inspiração e Infalibilidade das Escrituras
Agora precisamos definir com mais clareza o que é inspiração – pois ela é a base para a autoridade da Bíblia e para nossa confiança nela. O que queremos dizer é que o Espírito de Deus supervisionou o processo de escrituração da revelação de tal maneira que:
Tudo o que os autores humanos escreveram é verdadeiro. Isto se estende até a escolha das palavras.
Eles foram preservados de registrar informações e conceitos errados, geográficos, históricos, morais ou espirituais.
Não podemos separar informações históricas de doutrinas. Ex: a ressurreição de Jesus é um evento histórico e o ponto doutrinário central.
Portanto, a Bíblia é a própria Palavra de Deus, confiável e autoritativa e infalível e inerrante.
O que a Inerrância Não Nega
Ao afirmarmos a inerrância da Bíblia:
Não estamos falando que a Bíblia não tenha um lado humano. Reconhecemos isto, mas como Jesus Cristo, a Bíblia é humana e não têm erros.
Não estão falando que as traduções são inerrantes – a inerrância está nos originais. Não os temos, mas podemos ter quase plena certeza do conteúdo pela manuscritologia.
Não estamos falando que não existem cópias contendo variações e redações diferentes – existem, mas secundárias e em pontos que não comprometem em nada as principais doutrinas da Bíblia.
Não estamos falando que a Bíblia seja um livro científico escrito em linguagem científica. Ela usa a linguagem do observador – morcego, lebre, sol se movendo.
Não estamos falando que não existam aparentes contradições – há várias, mas elas são aparentes. Exemplos: harmonia da cura do cego; números diferentes entre Crônicas e Reis.
Não estamos falando que algumas informações da Bíblia não são por vezes vagas e imprecisas – as vezes os autores fazem referências vagas a números e medidas arredondados. Imprecisão não significa erro. Ex: “eu moro a vários quilômetros do meu trabalho”.
Não estamos falando que não há passagens difíceis de entender. Não compreendemos plenamente tudo o que a Bíblia diz – sua mensagem central é clara, mas há passagens difíceis, como o próprio Pedro reconhece (2 Pe 3:15-16)
Não estamos falando que não é preciso estudá-la para melhor compreendê-la – sua mensagem central está disponível a todos os crentes. Mas sendo um livro humano, escrito há tanto tempo em outra cultura e língua, os estudos ajudam. Calvino: orare et labutare(ore e labute).
Provas da Inspiração das Escrituras
Ao longo da sua história, os cristãos sempre foram chamados a defender a sua confiança nestes 66 livros, que consideram como Palavra de Deus. Os argumentos geralmente usados são estes:
As reivindicações dos autores do AT e NT de que estão escrevendo a palavra de Deus;
O testemunho Jesus Cristo sobre as Escrituras;
As evidências da ciência: Design Inteligente, etc.;
As evidências da arqueologia;
A suprema excelência do seu conteúdo (quem somos; de onde viemos; para que existimos; há vida após a morte? Quem é Deus? como posso me relacionar com ele; como resolvo o problema da culpa?)
A eficácia da sua doutrina nas vidas transformadas;
A harmonia de todas as suas partes;
O seu alvo escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória);
As profecias cumpridas;
Sua preservação em meio aos ataques.
Todavia, estes argumentos só serão persuasivos e convincentes mediante a iluminação e a convicção do Espírito Santo. Sua autoridade não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu autor.
A Interpretação da Escritura
A doutrina da inspiração e infalibilidade das Escrituras conduzem logicamente a um método de interpretação que se coaduna com a natureza divina das Escrituras. Esse foi o problema dos liberais com o método crítico pretensamente científico e neutro.
Princípios de interpretação:
Escritura com Escritura
Harmonização
Sentido único – natural e óbvio
Necessidade de estudo do contexto cultural, histórico e das línguas originais.
Dependência do Espírito.
Implicações Práticas
Podemos confiar plenamente em tudo o que a Bíblia diz, pois é a Palavra de Deus. Devemos nos submeter à sua autoridade, reivindicações, promessas, advertências, orientações e instruções. Devemos guiar nossa conduta, decisões, escolhas e toda nossa vida pelos seus ensinamentos, normas, promessas e encorajamentos. Podemos anunciar o Evangelho com convicção, sabendo que Deus honrará a sua própria Palavra aqui registrada.
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