Quebra de maldições: é bíblico?
Um breve estudo sobre Maldições Hereditárias
O movimento de “batalha
espiritual” ensina a necessidade de se quebrar maldições hereditárias e de se
anular compromissos que ficaram pendentes com o diabo, mesmo após a pessoa ter
sido convertida a Cristo. Ensina-se que herdamos as maldições que acompanharam
nossos antepassados, por causa de seus pecados e pactos demoníacos, e que
precisamos anular estas maldições hereditárias.
O argumento da herança maldita.
De acordo com as pessoas que
ensinam a existência de crentes amaldiçoados, a maldição hereditária é a
autorização dada ao diabo por alguém que exerce autoridade sobre outrem (o pai
ou a mãe, por exemplo), para causar dano à vida do amaldiçoado, levando-o a
viver completamente fora dos propósitos de Deus.
Se uma pessoa não for chamado
para quebrar essa cadeia de maldição, a herança maldita, maligna e invisível
vai se espalhando e alcançando misteriosamente e indefinidamente os seus
descendentes, de geração à geração, trazendo-lhes problemas de ordem
espiritual, familiar, relacional, emocional e física.
Acredita-se, portanto,
que a maldição tem o poder de auto-concretizar-se. Como é isso na prática? É
assim: Se há na família alguém com problemas de prostituição, de alcoolismo é devido
à presença de um espírito maligno atuante nos ancestrais da família.
Por trás
do pecado da pessoa, está o pecado do ancestral familiar. Esse ensinamento é
fundamentado principalmente em Ex 20:5-6 que afirma: Eu, o SENHOR teu Deus, sou
Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e
quarta geração daqueles que me odeiam. E faço misericórdia a milhares dos que
me amam e aos que guardam os meus mandamentos. Os outros textos usados nesse
sentido são: Lv 26:39, Nm 14:18, Dt 30:19.
O argumento das palavras malditas.
Os que defendem a existência da
maldição hereditária também afirmam que as palavras humanas ditas de forma
impensada e precipitada têm poder em si mesmas para liberar a ação do diabo na
vida de uma pessoa, família ou geração.
Para ensinar isso, fundamentam-se em Tg
3:8-10 que nos diz: a língua, porém, nenhum dos homens é capaz de domar; é mal
incontido, carregado de veneno mortífero.
Com ela, bendizemos ao Senhor e Pai;
também, com ela, amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus. De uma só
boca procede bênção e maldição.
Assim, um garoto pode, por
exemplo, tornar-se um homossexual simplesmente porque o seu pai o amaldiçoou
chamando-o de mulherzinha! Veja que segundo essa estranha crença o rapaz
tornou-se homossexual não porque escolheu ou decidiu pessoalmente.
Mas a sua
homossexualidade foi despertada e alimentada pelas palavras de maldição ou de
zombaria proferidas e lançadas pelo seu próprio pai. Resultado: por ser tanto
amaldiçoado, acabou se tornando homossexual! A palavra humana gerou a
imoralidade.
Observa-se que o rapaz mesmo não
teve nenhuma responsabilidade sobre esse seu comportamento sexual pecaminoso.
Na verdade, segundo os defensores da maldição hereditária, qualquer pecado é
precedido por palavras de maldições de famílias.
Se uma pessoa é mentirosa,
homicida, invejosa, violenta, nervosa, briguenta é porque foi vítima de
palavras de praga, pronunciadas principalmente pelos pais. Assim, as palavras
têm poder para determinar o futuro, o destino, o caráter das pessoas! Elas
serão bem ou mal sucedidas de acordo com o que se falar delas ou para elas.
O argumento dos nomes malditos.
Os que acreditam em Maldição
Hereditária também defendem que a maldição pode atingir a pessoa dependendo do
nome que tenha. Afirmam que há nomes que trazem maldição em si, pelo seu
significado. O "bom nome" é equivalente ao "bom destino". O
"mal nome" é equivalente ao "mal destino". O caráter de uma
pessoa dependerá não de suas escolhas ou decisões pessoais, mas exclusivamente
do seu nome.
Ao observarmos o que se ensina
sobre maldição dos nomes, constatamos que essa "ensino" é basicamente
fundamentado e sistematizado sobre uma série de experiências pessoais,
subjetivas. E aí citam várias experiências de pessoas que por causa dos nomes
"ruins" que tinham, sofreram inúmeros fracassos espirituais,
financeiros, conjugais, etc. Nessa condição, a pessoa só se verá livre desses
transtornos se a maldição do nome for quebrada ou o nome mudado.
Um dos textos usados para defender
este ponto é Êxodo 20.5, onde Deus ameaça visitar a maldade dos pais nos
filhos, até a terceira e quarta geração dos que o aborrecem.
Entretanto, ensinar que Deus faz
cair sobre os filhos as consequências dos pecados dos pais, é só metade da
verdade.
A Escritura nos diz igualmente que
se um filho de pai idólatra e adúltero vir as obras más de seu pai, temer a
Deus, e andar em Seus caminhos, nada do que o pai fez virá cair sobre ele. A
conversão e o arrependimento individuais “quebram”, na existência das pessoas,
a “maldição hereditária” (um efeito somente possível por causa da obra de
Cristo). Este foi o ponto enfatizado pelo profeta Ezequiel em sua pregação ao
povo de Israel da época (leia cuidadosamente Ezequiel 18).
Através do profeta Ezequiel, Deus
os repreendeu, afirmando que a responsabilidade moral é pessoal e individual
diante dele: “A pessoa que pecar, é ela quem morrerá — não o seu pai ou a sua
mãe” (Ez 18.4b, 20). E que pela conversão e por uma vida reta, o indivíduo está
livre da “maldição” dos pecados de seus antepassados, ver 18.14-19. Esta
passagem é muito importante, pois nos mostra de que maneira o próprio Deus
interpreta (através de Ezequiel) o significado de Êxodo 20.5.
Aplicando aos nossos dias, fica
evidente que o crente verdadeiro já rompeu com seu passado, e com as
implicações espirituais dos pecados dos seus antepassados, quando, arrependido,
veio a Cristo em fé.
O apóstolo Paulo nos esclarece que
o escrito de dívida que nos era contrário, a maldição da lei, foi tornado sem
qualquer efeito sobre nós: Jesus o anulou na cruz (Cl 2.13-15; Gl 3.13). Ou
seja, toda e qualquer condenação que pesava sobre nós foi removida
completamente quando Cristo pagou, de forma suficiente e eficaz, nossa culpa
diante de Deus. Ora, se a obra de Cristo no Calvário em nosso favor foi
poderosa o suficiente para remover de sobre nós a própria maldição da santa lei
de Deus, quanto mais qualquer coisa que poderia ser usada por Satanás para
reivindicar direitos sobre nós, inclusive pactos feitos com entidades malignas,
por nós, ou por nossos pais, na nossa ignorância.
Basta um estudo simples nas
Escrituras, da linguagem usada para descrever nossa redenção, para que não
fique qualquer dúvida de que o crente, à semelhança de um escravo exposto à
venda na praça, foi comprado por preço, e que, agora, passa a pertencer
totalmente ao seu novo senhor. O antigo patrão não tem mais qualquer direito
sobre ele, como rezava a legislação romana da época. Assim, Paulo diz que fomos
comprados por preço (1 Co 6.20; agorazo, comprar, redimir, pagar um resgate —
termo usado para o ato de comprar um escravo na praça, ou pagar seu resgate
para libertá-lo), e que sendo agora livres, não devemos nos deixar outra vez
escravizar (1 Co 7.23). Fomos resgatados (lutrou) pelo precioso sangue de
Cristo (1 Pe 1.18; cf. Ap 5.9).
Em resumo:
“se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas antigas passaram: eis que
se fizeram novas”. Não há nenhuma maldição que Cristo já não tenha quebrado na
cruz e que não tenha já sido desfeita na hora da conversão (novo nascimento). O
que os crentes precisam é santificação, e não quebra de maldição, para
crescerem mais em mais no conhecimento de Deus e no serviço dele.
Fontes:
Augustus Nicodemus/Facebook:
Teologia e Debates/Blog.
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